sexta-feira, 31 de julho de 2009

Por que gostamos tanto das nomenclaturas?

Analisando algumas observações que os professores fazem sobre suas práticas, percebo claramente o quanto nos apegamos às nomenclaturas. Alguns professores afirmam categoricamente que hoje não baseiam suas aulas de ensino de língua no estudo tradicional da gramática normativa, muito pelo contrário, vários deles dizem que agora trabalham com lingüística textual. Que o ensino de língua seja através de textos, acredito ser um consenso entre lingüistas, teóricos e professores; a grande questão é como estamos norteando essa prática do estudo do texto .
Tenho percebido, por exemplo, como alguns professores ensinam gêneros textuais a partir de conceitos (quais são os gêneros e os tipos de texto..),ensinando mais uma vez os nomes das coisas e não suas aplicabilidades numa situação real de comunicação. Isso me faz lembrar um fato interessante que ocorreu em um dos nossos encontros do gestar, uma professora cursista nos relatou que presenciou uma colega ensinando coesão referencial, ela disse que a referida professora fazia questão de ensinar aos alunos coesão endofórica, exofórica,anáfora,catáfora...deixando os alunos do ensino fundamental perplexos com tantos nomes esdrúxulos. É importantíssimo saber que nós, enquanto professores da área de linguagem, devemos sim conhecer os conceitos e nomenclaturas; mas os nossos alunos devem saber usar, utilizar, aplicar. Precisamos fazer uma transposição didática dos conceitos adquiridos sobre lingüística textual, senão estaremos mais uma vez ensinando em nossas salas as nomenclaturas, conceitos e não as suas reais funções.
Marcuschi em seu livro “produção textual, analise de gênero e compreensão” afirmou: “ O trabalho com língua portuguesa ,na perspectiva de uma lingüística textual,teria de se ocupar com algo mais do que o ensino e aprendizagem de regras ou normas de boa-formação de seqüências lingüísticas. Trata-se de um estudo em que se privilegia a variada produção e suas contextualizações na vida diária.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

7º Encontro

TODOS DE OLHO NO GESTAR II

OFICINA LIVRE DO GESTAR II ATRAI TODA A REDE DE PROFESSORES NA ABERTURA DO 2º SEMESTREE LETIVO EM PETROLINA
No dia seis de julho o auditório da Universidade de Pernambuco, Campus III, localizado em Petrolina, com capacidade para 900 pessoas, foi palco de mais uma oficina livre do Gestar II, marcando, assim, a abertura oficial do 2º semestre letivo. O referido espaço ficou lotado por professores das diversas áreas de ensino da Rede Pública Estadual de Petrolina.
O evento abordou o tema Planejamento e avaliação a partir de uma visão interdisciplinar do processo ensino/aprendizagem, trazendo como objetivo refletir sobre as concepções de planejamento e avaliação numa abordagem interdisciplinar. A metodologia utilizada proporcionou a participação e a interação do grupo através do debate e das intervenções oportunizadas pelos formadores.
Assim sendo, ao proporcionarmos essa Oficina Livre construímos um link com os demais componentes curriculares. Partindo do ensino da língua posto pelo Gestar II, socializamos as experiências vivenciadas pelo Programa imprimindo, por meio desse, palestras interdisciplinares, ou seja, apoiados nos TPs , dinamizamos temáticas que se alinharam à malha de disciplinas vivenciadas na Rede, em consonância com a Base Curricular Comum do Estado de Pernambuco.
A oficina foi organizada em dois turnos: manhã das 08 às 12hs e tarde,das 14 às 18hs, atendendo, assim, a dois públicos participantes distintos. No total, cerca de um mil e seiscentos professores/as participaram ativamente das oficinas e avaliaram positivamente o Programa, sugerindo que o mesmo possa ser extensivo ao Ensino Médio e aos demais componentes curriculares.
Assim posto, o Gestar II nos coloca diante de mais um desafio: abrir novos cenários de atuação do mesmo na diversidade da dinâmica pedagógica em seu amplo mosaico e nas políticas de ensino. Só assim abriremos caminhos mais eficazes pela efetivação do conhecimento na marcha da história.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

6º Encontro: Estilística




Nossa oficina sobre estilística ( Unidade 17 do TP 5 ) foi bastante divertida e criativa. É maravilhoso poder ver como a Língua Portuguesa é riquíssima em expressividade, compartilhamos com os cursistas vários textos e analisamos as questões de estilo presentes não apenas nos textos literários mas em diversos gêneros textuais que circulam socialmente.
Depois de uma exposição teórico-metodológica, de uma longa discussão sobre o que é estilo ( se ele é ou não intencional ) e depois de várias tentativas de explicar ou definir o estilo, os cursistas se reuniram em grupos para estudar as seções e montar situações didáticas sobre aquilo que foi estudado.
Na mesma oficina socializamos o produto das atividades em grupo, e foi exatamente nessa hora que percebemos por meio das propostas dos cursistas a grandiosidade das diversas possibilidades de trabalhar as seções sugeridas no TP. Essa foi mais uma oficina bem sucedida do Gestar II em Petrolina.

5º Encontro: socialização das experiências


Uma das coisas indispensáveis na vida de um profissional é o desejo de avançar e buscar um aperfeiçoamento. Esse é um sinal claro de que este profissional está vivo e ativo. Ao longo dessas nossas oficinas tenho ficado muito feliz em me deparar com pessoas que, apesar dos contratempos e das árduas situações inerentes à profissão, estão desejosas e estimuladas na busca pelo conhecimento e de melhorias para uma qualificação profissional. Eles teriam muitas razões para agir de forma apática e indiferente, mas eles estão vivos e continuam tentando fazer a diferença em sala de aula. Isso foi claramente perceptível nessa oficina em que fizemos uma grande socialização das experiências vividas em sala de aula ( demonstrando a aplicação das atividades do Gestar II ). Valeu a pena ver que apesar de alguns obstáculos enfrentados, os professores cursistas demonstraram que estão fazendo o possível para executar com sucesso aquilo que é solicitado pelo programa.
A cada oficina tenho me animado mais com o Gestar II, pelo simples fato de que os cursistas têm se mostrado bastante receptivos, abertos à aprendizagem, humildes e disponíveis para inovar.

O papel do registro na formação do educador

"o que diferencia o homem do animal
é o exercício do registro
da memória humana" Vygotsky

O educador no seu ensinar, está em permanente fazer, propondo atividades, encaminhando propostas aos seus alunos.
Por isto mesmo sua ação tem que ser pensada, refletida para que não caia no praticismo nem no "bomberismo pedagógico".
Esta ação pensante, onde prática, teoria e consciência são gestadas é de fundamental importância em seu processo de formação.
Contudo, não é todo educador que tem apropriado seus desejos, seu fazer, seu pensamento na construção consciente de sua prática e teoria.
Como despertá-lo deste sonho alienado, reprodutor mecânico de modismos pedagógicos?
Como formá-los para que sejam atores e autores conscientes de seu destino pedagógico e político? Como exigir que já estejam prontos para determinada prática pedagógica se nunca, ou muito pouco, exercitaram o seu pensar reflexivo e a socialização de suas idéias?
O registro da reflexão sobre a prática constitui-se como instrumento indispensável à construção desse sujeito criador, desejante e autor de seu próprio sonho.
O registro permite romper a anestesia diante de um cotidiano cego, passivo ou compulsivo, porque obriga pensar.
Permite ganhar o distanciamento necessário ao ato de refletir sobre o próprio fazer sinalizando para o estudo e busca de fundamentação teórica.
Permite também a retomada e revisão de encaminhamentos feitos, porque possibilita a avaliação sobre a prática, constituindo-se fonte de investigação e replanejamento para a adequação de ações futuras.
O registro permite a sistematização de um estudo feito ou de uma situação de aprendizagem vivida. O registro é História, memória individual e coletiva eternizadas na palavra grafada. É o meio capaz de tornar o educador consciente de sua prática de ensino, tanto quanto do compromisso político que a reveste.
Mas não é fácil escrever e refletir sobre nossa ação de ensino. No decorrer destes anos, desde 1979, tanto no acompanhamento da reflexão de educadores, como no meu exercício permanente de reflexão e registro sobre a minha própria prática, tenho me certificado da importância desse exercício no processo de apropriação do pensamento.
A seleção, por cada um, do que é relevante ser registrado se faz lenta e gradual. A princípio não há clareza sobre as prioridades, sobre o que é importante guardar para além da lembrança, as vezes vaga, que pode ser guardada pela memória imediata.
No processo de formação de educadores entendemos ser de extrema importância o desenvolvimento do registro enquanto ação sistemática e ritual do educador. Nesse sentido, nossa proposta no curso de formação estrutura-se de forma a propiciar esse exercício, primeiramente, através da escrita sobre a aula, da sua síntese, que exige o exercício do registro em dois momentos distintos: primeiro, no ato mesmo da aula e depois, já distanciado dela.
No primeiro momento, o exercício de observação e escuta subsidiam o registro apontando para os dados mais relevantes e significativos. Na aula, os educadores em curso observam as ações de ensino bem como a dinâmica constituída pelo grupo e acompanham a discussão dos conteúdos tratados.
O registro posterior, longe do espaço/tempo em que ocorreu a ação, caracteriza um outro e distinto movimento reflexivo. É nesse momento que os dados coletados podem ser interpretados lançando luzes à novas hipóteses e encaminhamentos, tanto no que diz respeito as ações de ensino, quanto no que aponta para as necessidades da aprendizagem. Dessa maneira, o educador, leitor e produtor de significados, cerca com rigor o seu pensar estudioso sobre a realidade pedagógica. Mas não basta registrar e guardar para si o que foi pensado, é fundamental socializar os conteúdos da reflexão de cada um para todos. É fundamental a oferta do entendimento individual para a construção do acervo coletivo. Como bem pontuava Paulo Freire, o registro da reflexão e sua socialização num grupo são "fundadores da consciência" e assim sendo, sem risco de nos enganarmos, são também instrumentos para a construção de conhecimento.
Nesse aprendizado permanente de escrever e socializar nossa reflexão valendo-nos do diálogo com outros, sedimenta-se a disciplina intelectual tão necessária a um educador pesquisador, estudioso do que faz e da fundamentação teórica que o inspira no seu ensinar.
O registro é instrumento para a construção da competência desse profissional reflexivo, que recupera em si o papel de intelectual que faz ciência da educação.

Madalena Freire