sábado, 17 de outubro de 2009
10º encontro
É impressionante como apresentamos algumas barreiras na hora de escrever, a nossa vida escolar formou em nós verdadeiras fortalezas de resistência para o ato da escrita. Temos medo e inibição (resquícios de uma educação mecânica e engessada). Percebemos isso claramente na oficina de produção textual em que todos os cursista foram convidados a escrever, foi interessante ver como nos comportamos em atividades que constantemente obrigamos nossos alunos a vivenciarem. Apesar da resistência inicial,os cursistas construíram lindos textos ( Tão interessantes que os guardei como acervo particular ).Refletimos muito sobre a necessidade de produzirmos mais, falamos sobre a importância do registro reflexivo na nossa profissão.Toda essa reflexão surgiu da forma como nós propomos a oficina que foi organizada de maneira bem interativa.Vejamos:
• No primeiro momento, os cursistas leram e compreenderam um trecho do texto de Moacy Scliar “A primeira cartilha” e logo após receberam a proposta para escreverem numa folha de ofício sobre uma experiência engraçada da sua vida de estudante. Essa dinâmica possibilitou o entendimento sobre uma das estratégias de escrita: “brainstorming”, já muito conhecida e utilizada, a produção de anotações, resumos, parágrafos iniciais, etc.
• No segundo momento, tiveram que seguir algumas orientações sobre a escrita. O objetivo dessa dinâmica era fazê-los passar por todas as etapas do processo de composição textual: planejamento, revisão e edição.
• No terceiro momento, as etapas do processo de composição pelas quais passaram foram percebidas e tornaram tema de discussão. Foi maravilhoso! Os professores observaram que a produção textual tem como trabalho central a escrita do texto e que todas as etapas estão interligadas, mas podemos ensinar nossos alunos que durante a escrita podem planejar novamente e revisar o que escreveram, dialogando com seu texto, fazendo perguntas ao seu texto como as indicadas por Calkins (2002: 166 e 167): “O que eu disse até agora? O que estou tentando dizer? Será que eu gosto do que escrevi? O que é tão bom aqui, que eu possa entender? O que não é bom que eu possa arrumar? Como meu texto soa? Como parece? O que meu leitor ou leitora pensará, quando ler isto? Que indagações poderão fazer? O que observarão? Sentirão? Pensarão? E o que farei a seguir?”
• No quarto momento, para a surpresa de todos, seus textos tiveram que passar por uma correção. Em dupla houve troca de textos e tiveram que se posicionar como professores corrigindo as produções de seus alunos. Magnífico! Pois entenderam que há tipos de correção: indicativa, classificatória, resolutiva e textual-interativa e a partir daí, analisaram qual comumente utilizam em sala de aula.
• Para finalizarmos a oficina, refletiram sobre a diferença entre: corrigir e avaliar, redação e produção, analisaram as atividades do TP6, unidades 21 e 22, e selecionaram um dos avançando na prática das unidades trabalhadas para ser aplicado com a turma em que está desenvolvendo as oficinas do Gestar.
Acredito que os objetivos foram alcançados, pois os professores que ali estavam, saíram com a certeza que:
• Cabe ao professor não somente preparar o aluno para a produção de textos, garantindo o conhecimento sobre o tema a ser desenvolvido, mas que ele deve privilegiar o aprendizado relacionado aos procedimentos de produção, seja por exemplo próprio, seja por outro tipo de exemplificação.
• O professor é aquele que constrói andaimes que vão sendo utilizados e internalizados pelos alunos.
9º Encontro
Uma das atividades consideradas vitais para o ser humano é a comunicação, o homem é um ser sócio-historicamente construído, e dotado de linguagem, uma das noções defendidas por Bakhtin é a de que a linguagem é uma atividade social e interativa e de que ela é dialógica, ou seja, todo enunciado é sempre um enunciado de alguém para alguém, e nessa interação sempre queremos convencer o outro sobre nossas idéias o pensamentos, fazemos isso de forma consciente ou não. No início da oficina discutimos essa visão bakhtiniana e lemos o texto do ampliando nossas referências, tivemos alguns embates, mas acabamos chegando à conclusão que todo uso da linguagem acaba sendo argumentativo. Na exposição dialogada observamos a construção da argumentação nos textos publicitários e nas fábulas, diferenciamos teses e argumentos, e estudamos os tipos de argumentos apresentados no TP6, unidade 21.
Uma das coisas também relevante nesta oficina foi a socialização das atividades aplicadas, acredito ter sido o dia em que tivemos um número bem significativo de atividades socializadas pelos cursistas. Foi muito proveitoso ver o quanto eles foram bem sucedidos na aplicação dos “avançando na prática” sobre coesão e coerência.
8º Encontro
Neste encontro tivemos momentos maravilhosos de descontração,iniciamos a oficina com uma dinâmica, selecionamos dois professores para construir textos orais a partir dos objetos que estavam dentro de uma mala, cada objeto mostrado deveria ser inserido no texto observando a continuidade, a progressão e o sentido. Foi fantástico! Ficamos maravilhados com a criatividade dos professores e a veia cômica deles, pois acabamos dando boas risadas. Depois desse momento partimos para a exposição dialogada, definimos coerência e coesão, discutimos a importância desse conhecimento para a leitura e produção textual, analisamos vários textos, observando a coesão referencial e seqüencial e vendo também a coerência como um principal de interpretatividade. Notificamos os sete elementos indispensáveis para que o texto tenha textualidade, nos debruçamos na visão de Beaugrand, mas também na visão defendida por Marcuschi e Ingedore Koch (grandes representantes da lingüística textual no Brasil). Lemos e debatemos o texto do ampliando nossas referencias da página 166, incluindo todas as referencias teóricas das unidades 18 e 19 do TP5. Após os estudos teóricos e a troca de experiências chegamos à conclusão que enquanto professores de linguagem, no momento de trabalharmos esses conteúdos, não devemos ensinar nomenclaturas para o aluno, não é proveitoso pedagogicamente que ele saiba dos nomes dos tipos de coesão, por exemplo, mas que ele saiba aplicar, utilizar numa situação real de comunicação. Nossa prática vai ser bem sucedida se fizermos uma transposição didática dos conceitos adquiridos, pois muitos professores estão trabalhando com lingüística textual ensinando aos alunos os conceitos e não o uso prático, interativo e funcional.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
O cansaço e a vida
O que é a vida? A vida é um breve sopro que aparece e por pouco desaparece, mesmo que sejamos eternos, a vida é uma passagem rápida, efêmera, fugaz... Deve ser vivida intensamente, as horas devem parecer as últimas já vividas... Sofro na expectativa de ser plena, mas como ser plena se as obrigações, os valores e o sistema nos limitam as ações. Quero, mas nem sempre posso... vou descobrir em Deus o segredo de viver da melhor maneira possível,no fundo eu já sei, mas nem sempre posso...Meu desejo é viver plenamente.
O ligar e desligar o interruptor da vida é extremamente rápido, sendo vulgar ouvir metaforicamente que: “ A vida são dois dias...” Este ditado popular,tal como a maioria deles, tem muito de verdadeiro, pois a nossa passagem por essa terra é controlada pelo tempo, o qual atua implacavelmente .
Penso que seria muito bom que cada um de nós tivesse mais consciência do pouco que dura a vida , pois este é um bom motivo para pensar duas vezes antes de iniciar uma discussão, uma briga, ou perder tempo com coisas que não são significativas.
Se temos o privilégio de viver, embora limitados pelo tempo, então que vivamos o melhor possível com os que nos cercam, pois esses ajudam a construir a história da nossa vida, para que um dia mais tarde restem apenas boas recordações desta breve passagem. de maneira que esta dádiva seja vivida feliz e inesquecivelmente.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Por que gostamos tanto das nomenclaturas?
Tenho percebido, por exemplo, como alguns professores ensinam gêneros textuais a partir de conceitos (quais são os gêneros e os tipos de texto..),ensinando mais uma vez os nomes das coisas e não suas aplicabilidades numa situação real de comunicação. Isso me faz lembrar um fato interessante que ocorreu em um dos nossos encontros do gestar, uma professora cursista nos relatou que presenciou uma colega ensinando coesão referencial, ela disse que a referida professora fazia questão de ensinar aos alunos coesão endofórica, exofórica,anáfora,catáfora...deixando os alunos do ensino fundamental perplexos com tantos nomes esdrúxulos. É importantíssimo saber que nós, enquanto professores da área de linguagem, devemos sim conhecer os conceitos e nomenclaturas; mas os nossos alunos devem saber usar, utilizar, aplicar. Precisamos fazer uma transposição didática dos conceitos adquiridos sobre lingüística textual, senão estaremos mais uma vez ensinando em nossas salas as nomenclaturas, conceitos e não as suas reais funções.
Marcuschi em seu livro “produção textual, analise de gênero e compreensão” afirmou: “ O trabalho com língua portuguesa ,na perspectiva de uma lingüística textual,teria de se ocupar com algo mais do que o ensino e aprendizagem de regras ou normas de boa-formação de seqüências lingüísticas. Trata-se de um estudo em que se privilegia a variada produção e suas contextualizações na vida diária.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
7º Encontro
OFICINA LIVRE DO GESTAR II ATRAI TODA A REDE DE PROFESSORES NA ABERTURA DO 2º SEMESTREE LETIVO EM PETROLINA
No dia seis de julho o auditório da Universidade de Pernambuco, Campus III, localizado em Petrolina, com capacidade para 900 pessoas, foi palco de mais uma oficina livre do Gestar II, marcando, assim, a abertura oficial do 2º semestre letivo. O referido espaço ficou lotado por professores das diversas áreas de ensino da Rede Pública Estadual de Petrolina.
O evento abordou o tema Planejamento e avaliação a partir de uma visão interdisciplinar do processo ensino/aprendizagem, trazendo como objetivo refletir sobre as concepções de planejamento e avaliação numa abordagem interdisciplinar. A metodologia utilizada proporcionou a participação e a interação do grupo através do debate e das intervenções oportunizadas pelos formadores.
Assim sendo, ao proporcionarmos essa Oficina Livre construímos um link com os demais componentes curriculares. Partindo do ensino da língua posto pelo Gestar II, socializamos as experiências vivenciadas pelo Programa imprimindo, por meio desse, palestras interdisciplinares, ou seja, apoiados nos TPs , dinamizamos temáticas que se alinharam à malha de disciplinas vivenciadas na Rede, em consonância com a Base Curricular Comum do Estado de Pernambuco.
A oficina foi organizada em dois turnos: manhã das 08 às 12hs e tarde,das 14 às 18hs, atendendo, assim, a dois públicos participantes distintos. No total, cerca de um mil e seiscentos professores/as participaram ativamente das oficinas e avaliaram positivamente o Programa, sugerindo que o mesmo possa ser extensivo ao Ensino Médio e aos demais componentes curriculares.
Assim posto, o Gestar II nos coloca diante de mais um desafio: abrir novos cenários de atuação do mesmo na diversidade da dinâmica pedagógica em seu amplo mosaico e nas políticas de ensino. Só assim abriremos caminhos mais eficazes pela efetivação do conhecimento na marcha da história.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
6º Encontro: Estilística
Nossa oficina sobre estilística ( Unidade 17 do TP 5 ) foi bastante divertida e criativa. É maravilhoso poder ver como a Língua Portuguesa é riquíssima em expressividade, compartilhamos com os cursistas vários textos e analisamos as questões de estilo presentes não apenas nos textos literários mas em diversos gêneros textuais que circulam socialmente.
Depois de uma exposição teórico-metodológica, de uma longa discussão sobre o que é estilo ( se ele é ou não intencional ) e depois de várias tentativas de explicar ou definir o estilo, os cursistas se reuniram em grupos para estudar as seções e montar situações didáticas sobre aquilo que foi estudado.
Na mesma oficina socializamos o produto das atividades em grupo, e foi exatamente nessa hora que percebemos por meio das propostas dos cursistas a grandiosidade das diversas possibilidades de trabalhar as seções sugeridas no TP. Essa foi mais uma oficina bem sucedida do Gestar II em Petrolina.
5º Encontro: socialização das experiências
Uma das coisas indispensáveis na vida de um profissional é o desejo de avançar e buscar um aperfeiçoamento. Esse é um sinal claro de que este profissional está vivo e ativo. Ao longo dessas nossas oficinas tenho ficado muito feliz em me deparar com pessoas que, apesar dos contratempos e das árduas situações inerentes à profissão, estão desejosas e estimuladas na busca pelo conhecimento e de melhorias para uma qualificação profissional. Eles teriam muitas razões para agir de forma apática e indiferente, mas eles estão vivos e continuam tentando fazer a diferença em sala de aula. Isso foi claramente perceptível nessa oficina em que fizemos uma grande socialização das experiências vividas em sala de aula ( demonstrando a aplicação das atividades do Gestar II ). Valeu a pena ver que apesar de alguns obstáculos enfrentados, os professores cursistas demonstraram que estão fazendo o possível para executar com sucesso aquilo que é solicitado pelo programa.
A cada oficina tenho me animado mais com o Gestar II, pelo simples fato de que os cursistas têm se mostrado bastante receptivos, abertos à aprendizagem, humildes e disponíveis para inovar.
O papel do registro na formação do educador
é o exercício do registro
da memória humana" Vygotsky
O educador no seu ensinar, está em permanente fazer, propondo atividades, encaminhando propostas aos seus alunos.
Por isto mesmo sua ação tem que ser pensada, refletida para que não caia no praticismo nem no "bomberismo pedagógico".
Esta ação pensante, onde prática, teoria e consciência são gestadas é de fundamental importância em seu processo de formação.
Contudo, não é todo educador que tem apropriado seus desejos, seu fazer, seu pensamento na construção consciente de sua prática e teoria.
Como despertá-lo deste sonho alienado, reprodutor mecânico de modismos pedagógicos?
Como formá-los para que sejam atores e autores conscientes de seu destino pedagógico e político? Como exigir que já estejam prontos para determinada prática pedagógica se nunca, ou muito pouco, exercitaram o seu pensar reflexivo e a socialização de suas idéias?
O registro da reflexão sobre a prática constitui-se como instrumento indispensável à construção desse sujeito criador, desejante e autor de seu próprio sonho.
O registro permite romper a anestesia diante de um cotidiano cego, passivo ou compulsivo, porque obriga pensar.
Permite ganhar o distanciamento necessário ao ato de refletir sobre o próprio fazer sinalizando para o estudo e busca de fundamentação teórica.
Permite também a retomada e revisão de encaminhamentos feitos, porque possibilita a avaliação sobre a prática, constituindo-se fonte de investigação e replanejamento para a adequação de ações futuras.
O registro permite a sistematização de um estudo feito ou de uma situação de aprendizagem vivida. O registro é História, memória individual e coletiva eternizadas na palavra grafada. É o meio capaz de tornar o educador consciente de sua prática de ensino, tanto quanto do compromisso político que a reveste.
Mas não é fácil escrever e refletir sobre nossa ação de ensino. No decorrer destes anos, desde 1979, tanto no acompanhamento da reflexão de educadores, como no meu exercício permanente de reflexão e registro sobre a minha própria prática, tenho me certificado da importância desse exercício no processo de apropriação do pensamento.
A seleção, por cada um, do que é relevante ser registrado se faz lenta e gradual. A princípio não há clareza sobre as prioridades, sobre o que é importante guardar para além da lembrança, as vezes vaga, que pode ser guardada pela memória imediata.
No processo de formação de educadores entendemos ser de extrema importância o desenvolvimento do registro enquanto ação sistemática e ritual do educador. Nesse sentido, nossa proposta no curso de formação estrutura-se de forma a propiciar esse exercício, primeiramente, através da escrita sobre a aula, da sua síntese, que exige o exercício do registro em dois momentos distintos: primeiro, no ato mesmo da aula e depois, já distanciado dela.
No primeiro momento, o exercício de observação e escuta subsidiam o registro apontando para os dados mais relevantes e significativos. Na aula, os educadores em curso observam as ações de ensino bem como a dinâmica constituída pelo grupo e acompanham a discussão dos conteúdos tratados.
O registro posterior, longe do espaço/tempo em que ocorreu a ação, caracteriza um outro e distinto movimento reflexivo. É nesse momento que os dados coletados podem ser interpretados lançando luzes à novas hipóteses e encaminhamentos, tanto no que diz respeito as ações de ensino, quanto no que aponta para as necessidades da aprendizagem. Dessa maneira, o educador, leitor e produtor de significados, cerca com rigor o seu pensar estudioso sobre a realidade pedagógica. Mas não basta registrar e guardar para si o que foi pensado, é fundamental socializar os conteúdos da reflexão de cada um para todos. É fundamental a oferta do entendimento individual para a construção do acervo coletivo. Como bem pontuava Paulo Freire, o registro da reflexão e sua socialização num grupo são "fundadores da consciência" e assim sendo, sem risco de nos enganarmos, são também instrumentos para a construção de conhecimento.
Nesse aprendizado permanente de escrever e socializar nossa reflexão valendo-nos do diálogo com outros, sedimenta-se a disciplina intelectual tão necessária a um educador pesquisador, estudioso do que faz e da fundamentação teórica que o inspira no seu ensinar.
O registro é instrumento para a construção da competência desse profissional reflexivo, que recupera em si o papel de intelectual que faz ciência da educação.
Madalena Freire
sábado, 2 de maio de 2009
4º Encontro: Dia de festa!
Cada vez que me desafio a escrever sobre o que vivenciamos nas oficinas do Gestar II, sinto a importância de desenvolver a capacidade auto-reflexiva, fundamental no sentido de se constituir como ferramenta para o meu aperfeiçoamento profissional a partir da identificação concreta de limites e possibilidades.
Sinto, felizmente, que estamos avançando em muitos aspectos. Os cursistas têm sido grandes parceiros dessa aventura por acreditarem no Gestar II como um programa que possibilita a troca de múltiplos pontos de vista, o fortalecimento das experiências e, sobretudo, permite visibilidade necessárias das nossas práticas educativas na área de linguagem.
Essa oficina foi sobre leitura e processo de escrita ( TP4 ), falamos inicialmente sobre a necessidade de cultivar o hábito da leitura e sobre a nossa responsabilidade na formação de leitores competentes. Estabelecemos várias respostas à pergunta: Por que meu aluno não lê? Lemos o texto da página 147, uma discussão maravilhosa foi levantada e juntamente com ela possibilidade e sugestões para mudar o quadro atual vivenciado pela maioria deles. Destacamos questões como: O que é ler? Para que ler? Como ler? Debatemos a respeito de várias concepções de leitura e em uníssono priorizamos uma concepção sóciocognitivo-interacional, chegamos à conclusão que ler não é apenas extrair informações, decodificando palavra por palavra, mas é uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferências e verificação.
Depois de realizarmos bem sucedidas atividades, tivemos ótimos momentos de descontração. A oficina aconteceu dia 30 de abril, meu aniversário. Fui surpreendida com excelentes demonstrações de carinho, respeito e honra. Quero agradecer a todos os cursistas por terem tornado aquele encontro uma festa. Obrigada pelas muitas palavras de elogio e pelo incentivo.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
A complicada arte de ver
Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silencio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, cortar as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão cientifica A sua física é idêntica à física óptica de uma maquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mais uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. Drummond viu uma pedra e não via uma pedra. A pedra que ele via virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir as janelas para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é uma coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.
Há um poema no Novo Testamento que revela a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir o pão, “seus olhos se abriram”. Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas, e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas , quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos do prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo. Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos , das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse ter aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornando outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando agente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria que ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”...
sábado, 21 de março de 2009
Segundo encontro: fantástico
Certa feita, o poeta chileno Pablo Neruda disse a seguinte frase: “ Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final.” Apesar de ser uma grande brincadeira, acho que para ele não era mesmo difícil escrever. Mas, para mim, especialmente nesse momento, não tem sido fácil. Tornou-se complicado relatar o segundo encontro ( 2ª oficina ) do Gestar 2, pela grandeza das experiências vividas. Difícil é a expressão exata nesse momento, mas posso dizer que foi fantástico!
Conseguimos superar algumas dificuldades da oficina anterior ( questão de espaço, número de cursista para formador, recursos áudios visuais... ), avançamos muito nas discussões sobre gêneros e tipos de textos, ficamos lisonjeados com a maneira como os cursistas têm se mostrado: interessados, curiosos e dispostos a aprender. Muitos deles confessaram que durante a oficina conseguiram se despojar de velhos conceitos e abraçaram as novidades teóricas para o enriquecimento das suas práticas.
Iniciamos nossa oficina com um texto de Rubem Alves “ Gaiolas e asas “, a leitura e a reflexão desse texto deu muito “ pano pra manga”. Depois de uma discussão quase que interminável, fizemos uma dinâmica de produção e classificação dos tipos textuais; Socializamos as produções e partimos para um estudo teórico sobre os tipos textuais, tomando como base a visão de Marcuschi, Traváglia, Koch e outros. Estudamos as seções pertencentes as unidades 11 e 12 do TP3. Os cursistas puderam a partir da base teórica planejar e escolher a atividade ( avançando na prática ) que será aplicada em sala.
Em suma, senti-me realizada por ver mais uma vez a receptividade dos professores e perceber que apesar de estarem há anos em sala de aula, eles não se fecharam para a aprendizagem, mostraram-se humildes e disponíveis para inovar.
domingo, 15 de março de 2009
O primeiro encontro
Depois de algumas semanas de preparo nos deparamos com a situação tão esperada, estávamos agora como formadores (de fato) diante da nossa turma de cursistas. Esse foi um momento singular ,a prática educacional comporta momentos bem singulares,que caracterizam fundamentalmente a profissão docente.São essas zonas e momentos de incerteza,espaços e tempos de ação docente real que precisam ser considerados na nossa formação.Em situações iguais as que vivemos nesse encontro o professor realmente reflete sua prática,toma decisões,baseado em sua formação e em seu conhecimento da prática.
Durante o trabalho ,procuramos construir formas de ação que considerassem não apenas o acúmulo de novos conhecimento e seu eventual acréscimo à bagagem do professor,mas antes de tudo que promovessem a discussão,a reflexão e a troca de experiências.
Iniciamos a oficina lendo “A moça tecelã” e aplicando a dinâmica do barbante (a troca foi muito enriquecedora). Partimos para o estudo do TP3 , especialmente as unidades 9 e 10, optamos por aprofundar nosso conhecimento sobre gêneros textuais. Aplicamos a dinâmica dos envelopes da linguagem; a socialização dessa atividade foi fantástica , conversamos sobre competência metagenérica ,hibridização, intergênero, multimodalidade... Levantamos a velha e sempre nova questão do ensino de gêneros em sala de aula, esse ensino deve ter como objetivo promover o desenvolvimento das competências sociocomunicativas dos alunos,e que se deve trabalhar gêneros textuais com a mesma intenção com que se trabalham os códigos lingüísticos :ampliar as habilidades de comunicação dos usuários da língua.
Durante toda a oficina ,os cursistas fizeram observações pertinentes e bastante construtivas. Fizemos questão de defender no nosso encontro a idéia de que o profissional deve refletir sobre suas ações dentro e fora da sala de aula. Assim é necessário que ele não reproduza apenas o que sabe,mas tenha criatividade para formar opiniões diversas a sua pratica de ensino,construída a partir de reflexão.
quarta-feira, 11 de março de 2009
No livro “ A roda e o registro, uma parceria entre professor, alunos e conhecimento”, a autora Cecília Warschuer fala de algo aparentemente simples quando diz que registrar é deixar marcas, mas essencialmente marcas que traduzem vida, que traduzem experiências. Nós que fazemos parte do grupo de formadores do Gestar2 da cidade de Petrolina temos sido marcados de experiências maravilhosas que promoveram a construção e a elaboração de novos conhecimentos, implicando melhorias efetivas na nossa vida profissional.
Desde o dia 10 de fevereiro, estamos nos reunindo para planejar as ações para a execução do gestar em Petrolina. Pensamos na realização de um seminário de abertura,estudamos as formas de fazê-lo acontecer e no dia 19 de fevereiro aconteceu o seminário de lançamento do Gestar, foi um sucesso. Os professores de língua portuguesa foram extremamente receptivos, a chefe da UDE da G.R.E. Petrolina ( Isva ) fez a exposição do programa e foi muito feliz na sua fala como também na organização do seminário. Os formadores se apresentaram com muita autonomia, demonstrando nos seus discursos a importância do Gestar na formação do professor e o principal objetivo de oferecer possibilidades de construção de autonomia pedagógica no exercício da prática docente.
Esse resultado nos deixou animados e dispostos a enfrentar alguns dos desafios colocados pela tarefa que nos foi proposta: Contribuir para a formação de professores, o que, com certeza, tem impulsionado também o nosso desenvolvimento profissional.
Na semana subseqüente voltamos a nos reunir para planejar as oficinas e o nosso primeiro encontro com o professor, nosso cursista. Estudamos o TP 3, lemos e relemos as unidades 9 e 10, debatemos formas de organização do nosso encontro,concordamos,descordamos... Mas sempre considerando que a formação continuada oferece ao professor possibilidades concretas de ampliar conhecimentos, rever o que sabe e o que ainda necessita conhecer,para aprofundar seus estudos teóricos e aperfeiçoar sua prática. Firmados nessa consciência preparamos tudo da melhor forma possível.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Registro reflexivo
Há uma frase do Eduardo Galeano de que gosto muito: “somos o que fazemos, mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”. Creio que nesses dias de formação eu estava mais uma vez tentando melhorar o que já sou. Sei que o conhecimento não vai apenas aperfeiçoar minha vida profissional, pois sou daqueles que acreditam que o conhecimento é uma forma de nos melhorar como pessoa.
Tivemos uma semana muito produtiva, tive a sorte de ficar numa sala de profissionais competentes, criativos e divertidos (aprendi muito com eles!!!), sem contar com a nossa formadora (pró Isabel) dispensa comentários pela humildade com que se relacionou conosco, pela maneira que propôs as atividades e encaminhou as discussões. Não tem preço o valor daqueles momentos de reflexão, momentos de troca de experiência, nisso ver e conhecer a realidade e a luta de meus colegas tão semelhante à minha. É fundamental a oferta do entendimento individual para a construção do acervo coletivo. Como bem falou Paulo Freire, o registro da reflexão e sua socialização num grupo são fundadores da consciência e são também instrumentos para a construção do conhecimento. As trocas e reflexões constantes que nortearam os nossos encontros naquela semana certamente vão nos impulsionar para uma ação transformadora e se conseguirmos agir da mesma forma com os nossos cursistas, promoveremos mudanças e melhorias nas suas práticas pedagógicas.
As palavras mudança e melhoria me fizeram lembrar de um dos melhores dias da semana de formação, no dia em que estudamos o TP3. Certamente todos os professores que participam da formação já haviam estudado em muitos outros momentos os gêneros textuais, mas naquele dia teve um gostinho diferente; foi muito construtivo poder trabalhar esse conteúdo com os colegas, realizar a atividade do envelope da linguagem...E mais construtivo ainda refletir sobre o ensino dos gêneros textuais e os mitos ligados a esse ensino,pois muitas vezes em vez das práticas estamos ensinando objetos partindo da lógica de que se meu aluno sabe o que é um gênero então sabe escrevê-lo,aplicando a mesma idéia de nomenclatura que fazemos quando ensinamos gramática. Deve-se aprender pelas práticas e não pelos objetos,foi essa a consciência fortalecida nesse encontro. Os gêneros discursivos são gerados nas atividades humanas, quanto maior o número de atividades humanas maior o número de produção textual. Os textos devem ser trabalhados a partir de seu valor sócio-comunicativo e dentro de uma situação real de comunicação.
Além desse dia podemos dizer que todos os outros foram dias em que prática, teoria e consciência foram “gestadas” .ficando em mim uma ótima sensação de insatisfação , isso me tira da zona de conformismo e me leva para uma busca de desafios. O resultado será estudo e conseqüentemente mudança de atitude.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito
como não imaginar que, sem querer, feri alguém?
Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer,
uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas.
Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber
que alguma coisa que se disse por acaso
ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo
ou com a sua vida de cada dia;
a sonhar um pouco,
a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém.
Nunca saberei que palavra foi;
deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse
porque senti no momento e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário
e o canário não cantava.
Deram-lhe receitas para fazer o canário cantar;
que falasse com ele; cantarolasse;
batesse alguma coisa ao piano;
que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura;
que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador;
até mesmo que ligasse o rádio alto durante uma transmissão de jogo de futebol...
mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída,
e assobiou uma melodia de Beethoven
e o canário começou a cantar alegremente.
Haveria alguma ligação secreta
entre a alma do artista e o pequeno pássaro?
Alguma coisa que eu disse distraído
talvez palavras de algum poeta antigo
foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém.
Foi como se a gente soubesse que de repente,
num reino distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido.
E isso fizesse bem ao coração do povo...”
Rubem Braga